sábado, 1 de outubro de 2011
SÓ HÁ NOTÍCIA SE FOR MUITO RUIM
Artigo de opinião
Carlos Brickmann
Elio Gaspari costuma dizer que,
nas redações, a notícia chega devagarzinho, abre a porta de leve, põe a
cabeça para dentro e entra correndo para esconder-se.Se alguém a notar,
será imediatamente chutada para fora.
E, se a notícia for boa, suas chances de sobrevivência são ainda menores. Notícia que o pessoal
gosta é corrupção, é escândalo, é miséria, é tudo aquilo que deu
errado.Nas ocasiões em que o Brasil dá certo, aí não é notícia( e não
vale nem a regra de que boa notícia é o inusitado). Lugar de notícia
boa é a cesta do lixo.
Jundiaí,
no interior de São Paulo, atingiu 100% no fornecimento de água tratada
e chegou muito perto disso no tratamento de esgotos ( só não atingiu
100% por um problema judicial). Notícias? Só nos jornais da região, e olhe lá.A
capital de São Paulo, onde o programa de água e esgotos caminha bem
mais ainda está longe da universalização, ignorou o tema.O Brasil, onde
água tratada e esgoto são coisas de gente rica, preferiu investigar se tem ministro comendo tapioca com cartão corporativo(tema
que até vale investigação, mas não pode substituir outros assuntos de
importância, que se referem à vida e à morte dos cidadãos).
São
Caetano do Sul. Na Grande São Paulo, é um exemplo ainda mais claro de
que as boas notícias são desprezadas pelos meios de comunicação.De
acordo com os número da respeitadíssima Fundação Seade,
o índice de mortalidade infantil de São caetano é o menor do país;
equipara-se aos da Bélgica e do Japáo, quatro mortes por mil
nascimentos.É índice que ocorre no Primeiro Mundo.
A
derrubada dos índices de mortalidade infantil não ocorre, em lugar
nenhum, apenas pela boa atenção à saúde: exige tempo, trabalho
coordenado, que envolve planejamento, engenharia( tratamento de esgotos
e água), meio ambiente(plantio de árvores, limpeza de rios e córregos),
coleta de lixo, de preferência seletiva, assistência social (há em São
Caetano um programa tipo bolsa-família, mais completo que o federal,
mantido com recursos municipais), aleitamento materno, cuidados com as
gestantes, educação em sentido amplo, higiena, empregos. E envolve, o
que é raro, continuidade administrativa: não é porque um prefeito é
adversário do antecessor que deve abandonar seus planos.O atual
prefeito, José Auricchio, reeleito com 70% dos votos, tem na oposição
boa parte do grupo político de seu antecessor. E daí? Neste processo
todo, a cidade de 150 mil habitantes atingiu o maio Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do país. E, fora da região do Grande ABC, o fato foi olimpicamente ignorado pelos meios de comunicação.
Dizem que Ribeirão
Preto vai muito bem na área social(mas como encontrar dados, se não há
reportagens?). E, o que aparece às vezes na TV (mas rarissimamente na
imprensa escrita), a cidade se transforma em área de tecnologia de
ponta no uso do raio laser em auxílio a transplantes. Há belas
experiência de sustentabilidade ambiental no Rio Grande do Sul, há o
hospital de referência no tratamento de câncer de Barretos, há as
experiências em Campinas da Unicamp em energia alternativa e cirurgia
para diabetes, há excelentes pesquisas em Campina Grande, na Paraíba,
há um belo trabalho da Embrapa e da Escola de Agricultura Luiz de
Queiroz, há a agricultura irrigada de ótima qualidade no semiarido
nordestino.E quem sabe, por ter sido informado pelos meios de
comunicação, que as hélices dos geradores de vento da Europa são, em
grande parte, fabricadas no Brasil?
Vale matéria? De vez em
quando, a TV mostra, em horários alternativos, em programas
especializados, alguns as, alguns aspectos dessas experiências
positivas.De muita coisa este colunista tomou conhecimento ao integrar
o júri do último Prêmio Esso de Jornalismo, com belíssimas matérias nos jornais da região sobre os bons fatos que também ocorrem.
Vale matéria? Deveria valer. Mas, além da volúpia por más notícias, há um problema extra, que assusta pauteiros e repórteres: o medo da patrulha.Fazer
matéria a favor pode dar a impressão de que há alguma coisa esquisita
além da reportagem.Mas é preciso vencer também este preconceito- ou
ficaremos restritos ao noticiário policial fingindo que é cobertura
política.
Artigo de opinião retirado do material da Olimpíada de Língua Portuguesa.
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